quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Estamos numa nova era e tudo são interrogações e projectos, e algum temor também, perante um futuro que, ninguém duvida, vai ser diferente deste último século que já é passado. 

E se há as guerras e as catástrofes, há também os inventos, as descobertas científicas, e as novas ideias que, embora vindas, algumas delas, de tempos anteriores, se ocuparam do homem e da sua condição de vida, procurando torná-la mais justa. E mais suave também, mais facilitada. Claro que se está muito longe do modelo idealizado. Mas também se está longe do modelo que, na primeira metade do século há pouco terminado, ainda persistia.

Por esta razão alguém disse há dias, referindo-se à época actual: se outra razão não houvesse para olharmos o futuro com algum optimismo, bastaria, só por si, o facto de, diluídas as grandes diferenças sociais, e galgadas todas as latitudes, termos podido festejar em conjunto a passagem para um novo milénio.

De facto, pese embora alguns perigos, o progresso fez deste planeta um “aldeia global”, tal a facilidade em comunicar e a rapidez com que percorremos latitudes e longitudes e vamos até ao outro lado do globo com mais facilidade do que, em meados do século XIX, se ia de Barcelos a Lisboa, capital do reino. E vai-se de Cambeses ao Porto mais rapidamente do que nos tempos da administração do Couto, os nossos antepassados iam a Braga em demanda da sé, onde o poder estava instalado.

Mas voltando à facilidade em viajar, não posso deixar de referir aqui uma viagem (diria de estudo) ao arquipélago dos Galápagos, pertença do Equador, o país dos grandes vulcões, das montanhas andinas e do local geográfico que os cientistas, no século XIX, denominaram de latitude zero, viagem esta, de que participei na companhia de muitos jornalistas e seus familiares. E porque naquele tempo ainda tinha o espírito liberto das sombras que depois vieram, pude tomar apontamentos, rever estudos, tirar fotografias, coligir todo esse material e, com um pouco de imaginação, urdir pequenas intrigas, daí resultando uma narrativa de viagens romanceada, a qual pouco mais que rascunhada, acabou por ficar largo tempo no fundo de uma gaveta, até que finalmente tomou a forma de livro, e começa a ser distribuído pelas livrarias.

Não é meu costume falar aqui das obras que vou escrevendo. Mas, desta vez, quase fui obrigada a fazê-lo, porque por amizade assim mo “impuseram”. Portanto, se alguém achar excessiva esta minha atitude, resta-me, desde já pedir desculpa, por assim abusar das páginas deste jornal.

E resta-me também agradecer a todos aqueles que, direta ou indirectamente, me ajudaram a sair do silêncio a que me remetera, e da inércia em que me deixei ficar durante todo este tempo. E agradecer também o ânimo que me deram, ao mostrarem-se empenhados em que esta escritora, que se orgulha de ser barcelense, tenha o seu lugar no mundo literário da língua portuguesa. É o que vou tentar fazer, embora ciente das minhas limitações.

Crónica publicada no Jornal de Barcelos de 16-03-2000

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