segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Daqui de Cambeses, nesta paz rumorejante de pinhais que, a partir de Bouçó se estendem para o concelho de Braga, nesta paz bucólica que ainda é possível aqui usufruir, olho as folhas avermelhadas das vides e o amarelecer preguiçoso dos castanheiros, anunciadores de alegres magustos, próprios do mês de novembro.

É como se o dia dois de novembro e a lembrança fugazmente avivada dos que se foram, já se tivesse dissipado. E, de facto, breve o esquecimento os cobre, exceto para aqueles que “por obras valerosas se vão da lei da morte libertando” - concluo para mim, nesta aproximação ao verso camoniano. E de súbito ocorre-me o nome de um homem notável, que em Barcelos nasceu e cresceu, e cuja evocação do sexagésimo aniversário da sua morte decorre agora.

Trata-se de Jaime de Séguier, homenageado já em 1951, por iniciativa da Assembleia Barcelense, tendo Ernesto da Várzea proferido ali uma conferência em que focou sobretudo o poeta de juventude que esse barcelense ilustre foi. Mais tarde, em 1966, coube a vez ao Dr. Miranda de Andrade e, ainda por iniciativa da mesma assembleia, evocá-lo não só como poeta, mas também como jornalista, escritor, diplomata e economista.

Cabe agora a vez à Biblioteca Municipal de, no dia 28, lembrar esta figura notável dos fins do século XIX e primeira metade do século XX, que foi Jaime de Séguier.

Homem afortunado, dotado de excepcionais qualidade de inteligência e cultura, viu ainda em vida serem-lhe reconhecidas as qualidades de devotamento e labor com que sempre cumpriu as suas funções, não só pelo Governo de Lisboa mas também pelo do Brasil e França, que lhe concedeu o grau de Oficial da Legião de Honra (de França).

Espírito dotado de espantosa flexibilidade, não se limitou à carreira diplomática. Ele foi também jornalista, colaborando no “Jornal do Comércio” do Rio de Janeiro, quinzenalmente e durante trinta anos, dando deste modo a conhecer ao Brasil o que por França e resto da Europa ia acontecendo em matéria cultural, política e social também.

Dotado de uma precocidade notável era, aos quinze anos, jornalista no “Jornal da Noite” e, aos 21, cronista diário no “Folha Nova”, que então se publicava no Porto. Crónicas brilhantes, fruto de uma actividade intelectual constante, cujos temas variadíssimos revelam um espírito sagaz, atento e observador, qualidades aliadas a um fino sentido de humor e sensibilidade criativa. Essa mesma sensibilidade patente na sua poesia, que em livro intitulado “Allegres Adágios” ele nos deixou.

Factos estes que, ouso dizer, mais do que quaisquer outros, tornaram durável a memória que, a partir de 1932, dele se guardou.


Crónica publicada no Jornal de Barcelos de 18-1-92

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