segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Não resisto, uma vez mais, a falar da instrução em Cambeses, que o mesmo é falar da sua qualidade de vida. E ao falar da instrução, tenho fatalmente de evocar esses velhos edifícios que mais não eram do que casas particulares de boa construção, cujos donos cediam, por arrendamento, uma das suas salas, grandes como dependências domésticas, mas inevitavelmente acanhadas como salas de aula.

A primeira escola de Cambeses, escola muito antiga, esteve instalada em mais que uma casa, sabendo-se que, em 1915, estava a funcionar no lugar de Pomarinho. Nessa mesma data, uma nova escola foi criada, a feminina, que passou a funcionar no lugar da Cruz, em idênticas circunstâncias. Depois, talvez por conveniência dos professores, trocaram entre si as salas, para, em 1937, voltarem a ocupar as antigas instalações, assim permanecendo até 1959, data em que foi inaugurado um edifício escolar de frequência mista, no lugar de Gatão.

Foi sem dúvida um grande benefício para a freguesia. Mas esta melhoria na qualidade de vida só foi possível porque os representantes do povo se esforçaram nesse sentido, tendo de vencer muitas dificuldades e uma delas foi a obtenção, a expensas da freguesia, do terreno necessário à construção. Para o efeito criou-se uma comissão que conseguiu obter a importância necessária através de subscrição na freguesia. Outras dificuldades houve ainda a vencer, no respeitante a acessos indispensáveis à escola. Mas vencidas todas elas, a escola cumpriu a sua função, assim se mantendo durante trinta e três anos, se não em condições óptimas, pelo menos em muito melhores que aquelas até então verificadas nas escolas improvisadas em casas particulares, escolas sem recreios amplos, nem instalações sanitárias minimamente aceitáveis.


Salvava-se o ensino que, esse sim, era de muito boa qualidade, não podendo deixar de, a propósito, referir aqui um nome: o da professora Isaura Domingues Tavares Gouveia, que durante uma escassa meia dúzia de anos, dado o seu empenhamento, a sua devoção pelo ensino, marcou profundamente a infância das rapariguitas de então.

Crónica publicada no Jornal de Barcelos de 4-6-1992

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