segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

António Fogaça, poeta de Barcelos (no centenário da sua morte)

Nasceu António Fogaça nesta cidade, num desses dias coloridos como aqui o são os dias de maio, mesmo quando o frio vem e a chuva acontece.

Por outro lado, como se de uma simbologia se tratasse, foi um dia cinzento, porque era outono e chovia, segundo testemunhos da época, que a sua morte ocorreu, nessa Coimbra que tão bem o tinha acolhido, alguns anos antes.

Muitas décadas passaram já sobre estes dois acontecimentos: - o nascimento do poeta; a sua morte. – Uma morte, aliás, profundamente sentida, porque inesperada e prematura.

Das comemorações do centenário do seu nascimento se ocupou Barcelos em devido tempo. Comemorações talvez mais simples do que aquelas com que, nas cidades maiores, por vezes se assinala a data de nascimento ou morte de alguns dos nossos grandes poetas. Mas se acaso não foram tão grandiosas, foram, sem dúvida, comemorações imbuídas de uma grande afetividade.

Aquela afetividade que se tem por um filho, um irmão. Aquela afetividade que, há cem anos, trouxe Barcelos para a rua para que o último adeus a um Poeta fosse como os poetas merecem.

Não se pode, pois, afirmar que António Fogaça seja um grande esquecido. Sê-lo-á do grande público, como aliás talvez o sejam outros poetas, desde Camões a Bocage, desde Bernardim Ribeiro a Jorge de Sena.

Não, António Fogaça não tem que pedir contas a Barcelos porque Barcelos sempre honrou a sua memória, tal como agora o faz ao evocar desse ano de 1888 o dia em que inesperadamente partiu. E fá-lo, não com a mesma dor de então, porque o tempo a diluiu, mas com o orgulho de o saber seu filho.

Está em moda citar Fernando Pessoa a propósito de tudo e de nada. No entanto, se aqui o vou fazer, não é para seguir modas, mas sim para referenciar factos que mais não são do que simples coincidências: - Um é o facto de António Fogaça ter sido batizado no dia 13 de junho, dia em que, vinte e cinco anos mais tarde, Fernando Pessoa iria nascer, e o outro é relacionado com o ano de 1888, ano em que Fernando Pessoa nasceu e António Fogaça morreu.

Quase se diria que a criança recém-nascida viria cumprir o destino que a António Fogaça não seria permitido cumprir pois, como se sabe, foi muito limitada no tempo a vida do Poeta que hoje evocamos, apesar da força e do entusiasmo que a conduziram.

Vida tão limitada que nem teve tempo de a saborear, de a olhar com atenção.

Fernando Pessoa, esse, sim. Pode olhar a vida de muitos ângulos, sorvê-la, esbanjá-la pelos cafés e ruas de Lisboa, meditá-la no silêncio do seu quarto de homem solitário.

A sua obra não se pode, ainda dimensionar, tão vasta ela se apresenta. Mas, sem dúvida que não teria alcançado tal grandeza se também ele tivesse morrido, prematuramente, aos vinte e cinco anos de idade.

Assim, a sua vida, que durou quarenta e sete anos, apresenta-se-nos densa, misteriosa, insondável, como insondáveis são os leitos dos rios profundos dos rios profundos e poderosos.

Pelo contrário, de António Fogaça tudo se sabe, suponho: - a medida da sua oba; os seus gestos; as suas companhias, a sua vida límpida, como límpidas eram então, as águas deste nosso Cávado, que ele admirava, na sua “sedutora e múrmura corrente”. Ou desse Mondego que ele gostava de contemplar, todo entregue à vida romântica da Coimbra boémia.

Vida que viveu intensamente, apaixonadamente e, embora empenhado em tirar um curso de Direito, não deixou de, nessa cidade, continuar aquele itinerário que, como poeta e ainda em verdes anos, já em Barcelos se lhe anunciava.

Dois poetas irmanados por uma data, irmanados pelo amor à poesia. Diferentes, no entanto. Muito diferentes entre si. E, mais diferentes, ainda, os cânones estéticos de cada um deles, as diferenças que opõem o Parnasianismo e o Romantismo aos poetas do Futurismo. E porque diferentes na época do nascimento, diferentes no tempo de vida, diferentes foram na dimensão da obra realizada.

E no génio? Qual seria a dimensão das diferenças?

Se para as primeiras afirmações encontramos facilmente justificação, impossível se torna encontrar uma resposta para essa interrogação. Por isso dele falaria Magalhães Lima, há cem anos, no jornal “Aurora do Minho” ao afirmar com emoção e desgosto – “Ninguém sabe o que perdeu”

De facto, jamais se poderá saber qual seria a dimensão da grandeza de António Fogaça, se ele tivesse vivido pelo menos 47 anos, como Fernando Pessoa viveu.

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Sendo a poesia produto de uma época, aquela em que viveu António Fogaça iria, de certo modo influenciá-lo. Uma época em que muitos poetas coimbrões eram ainda românticos, apesar de o Realismo se apresentar então como uma forte corrente literária e o Parnasianismo ser ainda da simpatia de uns quantos.

Consequentemente, nesse crepúsculo do Romantismo que ainda persistia em Coimbra, na voz de alguns poetas, António Fogaça revela-se sensível à influência de João de Deus. Mas, apesar de afinidades estéticas de Escola e identidade de reações sentimentais, não tardaria a erguer uma voz muito jovem ainda, uma voz que era bem  a sua.

Amigo e companheiro de Trindade Coelho e de António Nobre, entre outros, destes difere pela sensibilidade poética dos seus versos, embora pertença como eles, a essa época em que, como se disse, o Romantismo era ainda do gosto de muitos poetas e o Parnasianismo dava os últimos passos e o Simbolismo se começava a adivinhar.

Mas, por diferentes que fossem os Cânones estéticos de cada um deles, havia contudo semelhanças: algumas com António Nobre, porque como ele era jovem, poeta e condenado a uma morte prematura. Sobre a sua cabeça, também a espada da morte estava suspensa, mas António Fogaça não lhe sentia a presença e muito menos a temia.

Daí um grande apego à vida, que se traduz em muitos dos seus versos. Os seus olhos estavam postos no futuro, enquanto que António Nobre não despegava o olhar do passado, sobretudo desse tempo de infância que, entre afetos vivera. Deixando que nele se acentuasse um narcisismo apaixonado e doentio que cada vez mais o dominava.

Mas para além de tudo isso, é notável em ambos uma espécie de fascínio, o gosto pelo sonho que, das ruas enluaradas de Coimbra se desprende e esse privilégio que é a capacidade de poder conciliar-se o estranho e o familiar, as sombras e a luz, a inocência e o conhecimento.

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Permaneceu António Fogaça, durante muitos anos, entre os seus companheiros, como se vivo estivesse.

Daí que eu, ao falar agora de António Fogaça. O faça como se de um poeta vivo se tratasse. Porque os poetas não morrem. Sabemos bem que assim é.

João Garcia de Guilhade, por exemplo, poeta do ciclo Alfonsino, que no século XIII em Barcelos viveu, continua a fazer ouvir a sua voz, uma voz de muitos séculos, nas suas “Cantigas de Amigo”, “Cantigas de Amor” e “Cantigas de Escárnio e Maldizer”.

Há pouco mais de cem anos, António Fogaça escreveu as suas poesias e nelas a sua voz continua bem presente, quer elas se possam enquadrar numa corrente literária ou noutra. Uma poesia em cujo roteiro lírico avulta, por vezes, naquela sua singela elegância, um gosto paisagístico, vindo da escola que que o Realismo criara.

“Romântico de costela realista” lhe chama Urbano Tavares Rodrigues. Na verdade, o Realismo está bem presente em alguns aspetos da sua poesia, como por exemplo, no modo como, objetivamente traça a aguarela que é o soneto intitulado “Tela Rústica”, poema que é desta paisagem o retrato centenário mas ainda atual, apesar das alterações que a Revolução industrial trouxe até nós.

Pintura colorida de uma terra que ele amava tanto como amava a vida e que iremos ouvir, para assim melhor admirarmos as cores desta aguarela minhota que é, como se disse, “Tela Rústica.”

 

TELA RÚSTICA

(Minho)

A Ernesto Leite de Vasconcelos

 

Meio dia. A estação canta radiosa,

Colorida e vibrante; nos eirados

Jantam à sombra os homens fatigados

Pelo esforço da vida trabalhosa.

 

Dos insetos a turba luminosa

Volteia e Zumbe; percorrendo o prados

Andam as aves chilreando, os gados,

E a corrente das fontes murmurosa.

 

Colhem à cesta o fruto dos pomares,

Ditosas, as crianças, num delírio,

Descantando os seus versos populares…

 

E, nas vides, do alto, enchendo a vista,

Brilham ao sol as uvas, cor de lírio,

Como cachos enormes de ametista.

 

Por tudo isto, no centenário da morte de António Fogaça, não quero lamentar a sua partida nem cobrir de cinzas as palavras que, em sua memória aqui deixo.

Não quero evocar factos da sua vida de boémio romântico, na cidade onde a morte o surpreendeu, nem tão pouco falar da tristeza da sua vida enlutada por mortes sucessivas.

Creio que estes aspetos da vida de António Fogaça todos os conhecem já. Deles falou, em livro, como muito bem sabe, o grande estudioso da obra de António Fogaça, o Dr. Miranda de Andrade.

Deles falaram, também em jornais e revistas, muitos dos que com ele conviveram. – Simples notícias ou sentidos poemas de mágoa e saudade.

Assim, neste cenário da sua morte, eu quero apenas falar de António Fogaça poeta: - De António Fogaça lírico e sonhador; Parnasiano e Romântico, Realista ou Erótico, embora de um erotismo mais idealizado que realizado. Quero falar ainda do sentido de humor de António Fogaça.

De facto, é a nível da linguagem poética e no desenrolar de situações ironicamente observadas que esse humor se revela, se vai realizando, se nos impõe.

Se não, ouçamos esta poesia intitulada “A uma aristocrata” que constitui na atmosfera que lhe é própria, um divertido quadro de costumes e uma lúcida análise de sentimentos onde emoção e ironia se entrelaçam:

 

A UMA ARISTOCRATA

 

Minha Senhora, eu sei que esse brasão

Faz abaixar os olhos ao mendigo

Que há muito tempo procurava abrigo

No seu altivo e frio coração.

 

Sabe que nos bailes Vossa Excelência,

Entre as fidalga íntimas do Paço,

Apenas concedia um riso escasso

Ao filho de um marquês… em decadência.

 

Um dia cativou-me aquele olhar

Que essa grande nobreza às vezes lança

Ou para rebater qualquer esp’rança

Ou para alguma esp’rança alimentar.

 

Nesta alocução dum grande anelo

Não dei a conhecer meu desespero,

Pois muitas vezes sonho e amo e quero

E nem me atrevo ao menos a dizê-lo.

 

Contudo, vossa Excelência, num mau dia,

Parece que sentiu o olhar plebeu,

Como a manchar-lhe o casto azul do céu

Que demandava a sua fantasia.

 

Desde esse instante é que essa mão pequena

Não descansou ainda, erguendo o muro, que

Deve separar este amor puro

Da nobre face pálida e serena!

 

Ao avistar-me só, volta-me as costas,

(o que não é cortês na velha raça),

Talvez p’ra não ferir, se por mim passa,

As rendas no vestido sobrepostas.

 

Pois bem: se vossa Excelência dá licença,

Eu descerei ainda a recordar,

Não o soberbo raio desse olhar,

O que hoje para mim era uma ofensa.

 

Mas sim: se já não sente o coração,

Ao menos p’ra consolo dos avós,

Que tenha bem presente o que entre nós

Se chama em português – educação.

 

Na verdade este poema de António Fogaça, intitulado “A uma Aristocrata”, reúne em si as categorias do cómico e do trágico, numa demonstração válida entre a consciência e o absurdo da realidade.

Uma realidade descrita com aquela ironia própria de uma juventude saudável como era a sua, a par de uma certa forma de irreverência que é igualmente apanágio de juventude.

Mas esta será, apenas uma pequena faceta do génio de António Fogaça, porque no conjunto de a sua obra, outros aspetos nos surgem. – Uma obra que não se resume ao libro publicado em vida do poeta e intitulado “Versos da Mocidade”, mas também se estende por uma longa série de poemas dispersos que, no espaço de meia dúzia de anos ele foi escrevendo e que a Câmara Municipal de Barcelos reuniu num volume por ela editado, há 25 anos.

 

Poesia assinalável pela sua qualidade metafórica, pelo modo como se sabe exprimir sensações visuais de que António Fogaça é dotado.

Poesia de singeleza. E também de pureza, onde tudo é genuíno, quase diríamos fora do tempo real. E a não aceitação, por vezes, dessa realidade, estende-se, em António Fogaça, à angelização da Mulher, à sua puerilização.

Uma poesia que vive, em parte, do sonho, da melancolia, da idealização do amor.

Um amor sentido que se exprime como uma aspiração da alma, quase uma religiosidade, uma fé, como por exemplo, este poema incluído em “Orações do Amor”

 

XXXI

Creio no que tu crês;

Por isso escuto o que essa voz me diz

 E te ajoelho assiduamente aos pés.

 

Creio no teu sorriso;

E sinto-me, se o vejo, tão feliz,

Como junto do sonho que idealizo.

 

Creio no teu olhar;

É ele que me rasga, glorioso,

As mil portas do céu de par em par.

 

Creio em teu coração;

Que, enfim, é como um templo majestoso,

Onde eu adoro a própria adoração.

 

São assim em grande parte, os versos de “Orações do Amor”, pequenos poemas dedicados à mulher amada, a quem o poeta considera “Lírio de Graça”(Poema XL) ou “Pomba do Céu” (poema XXXIII), ou “Alma ingénua de lírio” (poema XL) isto para referenciar apenas alguns versos dos seus poemas.

A poesia de António Fogaça não é fruto de uma juventude plena que passa ao de leve pela vida, uma juventude simples e esperançosa e que como tal teria de ser singela, fresca e radiosa.

 

Uma juventude que, como lhe é próprio, sabe cantar o amor, a saudade e os sofrimentos que o amor traz, embora em António Fogaça esse sofrimento de amor seja, possivelmente, mais idealizado do que vivido, tal como a mulher é idealizada, angelizada, em poemas como este, incluído na primeira parte de “Versos da Mocidade”:

XL

***

A ti, mulher suave,

Alma ingénua de lírio,

Seio alvíssimo de ave;

Amor santo, benéfico, insuspeito,

Que foste no passado o meu martírio,

Mas que és hoje a alegria deste peito

Onde vibram num só, dois corações;

A ti, branca Visão, com quem me deito

E com quem me alevanto,

A ti, que em riso converteste o pranto,

 

Eu consagro estas simples orações.

 

Na impossibilidade de nos determos sobre cada um dos poemas em que António Fogaça canta, não só o amor e a saudade, mas também e de um modo objetivo, a paisagem que o rodeia, e cultiva de forma irónica, um humor irreverente, terão de ser, forçosamente, de caráter geral, as apreciações aqui deixadas.

Os seus poemas constituem, indubitavelmente, uma obra poética que resistiu aos anos e que, passado um século, é ainda apreciada com entusiasmo e uma pontinha de emoção, sobretudo no que respeita aos poemas incluídos na primeira parte do livro que em vida o Poeta publicou e que, como sabemos, se intitula “Orações do Amor”.

Um amor puro, “Amor santo, benéfico, insuspeito” como acabámos de escutar.

E se o erotismo perpassa, por vezes, em alguns dos seus poemas, pouco mais será que uma idealização. É uma outra forma de amar que, embora pesada de erotismo é, como se disse, um erotismo mais idealizado que realizado, como por exemplo neste poema intitulado “Visão dum leito”:

 

VISÃO DUM LEITO

A José Luís Sardinha

 

Ei-la dormindo! Como a branca espuma

Que desliza ao quebrar duma onda enorme,

É seu leito tão flácido… que, em suma,

Lembra uma concha onde a volúpia dorme.

 

Cerrado o olhar, um céu de ignoto enleio,

O seu corpo febril me surpreendeu…

Nudez do acaso, enfim, um céu que veio

Como a seguir os lumes de outro céu.

 

Forma suave, branda, áurea-divina…

– Céu para os lábios, flor que em sonho amado

De puríssimos gozos se ilumina,

Sob um clarão de luar doce e azulado.

 

E eu sem poder tocar naquela face…

Nem conseguir ao menos esquecê-la!

Eu – como se este olhar, triste, ficasse

A vida inteira condenado a vê-la!

 

Vê-la sem a beijar, - fosse de leve!

Voluptuosa, entre ilusões e alvores,

Como um raio de Sol doirando a neve,

Como um perfume sobre um mar de flores.

 

Portanto é forçoso concluir que a poesia de António Fogaça não constitui apenas a revelação de mais um poeta da segunda metade do século XIX. A sua poesia traçou, pela sua simples existência, o quadro dentro do qual se desenvolveu percurso que, ao longo de muitas décadas, vem seguindo.

Décadas que já ultrapassaram um século, o que por si só diz do valor de uma Obra que, pelo seu conteúdo e beleza formal, chegou até nós e em nós permanece.

Se a vida de António Fogaça, como homem, foi curta, a sua vida literária ainda o foi mais: - Cinco ou seis anos de produção poética são, dum modo geral escassos. E quando esse período de tempo se reporta a verdes anos, mais não é, na maior parte das vezes, que os primeiros passos duma caminhada, na idade do devaneio, da singeleza.

Cinco ou seis anos de poesia de quem na juventude escreve, transportam consigo, geralmente, muitos dos sonhos da adolescência e, ainda, a marca dessa inocência que é o tempo da infância.

Com António Fogaça, porém, foi um pouco diferente. E se a sua obra poética não basta para confirmar a personalidade que se anunciava, não se pode definir essa obra dentro dos limites duma juventude incipiente, porque embora tivesse apenas vinte e cinco anos quando nos deixou, há já, em muitos poemas, a existência de uma voz amadurecida. Uma voz dotada daquela segurança e personalidade expressiva que é promessa de alto índice estético.

E assim não nos restam dúvidas de que, no curto espaço de tempo em que lhe foi permitido viver, ele foi grande. Tão grande nessas limitações que ninguém poderá duvidar que maior seria a sua obra poética se os fados não lhe tivessem sido adversos.

Uma obra poética onde abundam imagens originais a par de arrebatamentos líricos e onde se verifica, frequentemente, a associação do abstrato e do concreto.

É assim, nesse longo poema intitulado “Pepita”, no qual o poeta vibra e se emociona, emoção estética idealizada e transposta para os seus versos, segundo a linha de um romantismo que, repito, ainda se vivia na Coimbra dos anos oitenta.

 

PEPITA

A Júlio Solar

Ó bailadeira formosa,

Errante de praça em praça,

De linhas feitas de rosa

E gestos feitos de graça;

Salero!

No toque da pandeireta

Canta na tua desgraça

Chora no teu desespero

Que a turba brada faceta:

Salero!

 

O que importam, Pepita.

As tuas mágoas secretas;

Se o coração se agita…

Os olhos das violetas

Que chorem.

Invejar-te-ão com raiva

As tranças nédias e pretas…

Mas que essas mágoas deplorem

Já não há peitos, que eu saiba,

Que chorem.

 

Pelo azul da aspiração

Quantos raios desprendidos!

Deixa os sonhos partidos

A quem traz o coração

De luto…

Ó minha pálida filha,

Na forma de teus vestidos,

– Tristonho lírio impoluto –

Anda a altivez de Sevilha

De luto.

 

Se o pranto nunca repousa,

Pior é a vida que a morte:

Ao menos busca uma lousa,

Que é mais tranquila que a sorte.

Pepita.

Essa beleza tamanha,

Sem amor, sem luz, sem morte

Vergou à dor e à desdita…

Ai, que saudades de Espanha,

Pepita!

 

Que santo amor virginal

Vergará, triste, por ti,

Nas salas do Escorial

Ou nos jardins de Madrid

Chorando;

Se, enquanto vais na miséria

Divertindo a quem sorri,

Loucas, perdidas em bando,

Erram as pombas da Ibéria,

Chorando.

 

Estende a mão para a esmola

Ao povo que anda na praça

A ver o tom da espanhola, dançando e rindo

Com graça.

Salero!

No toque da pandeireta!

Canta na tua desgraça

Chora no teu desespero que a turba brada faceta,

Salero!

 

Comemorou-se há 25 anos o seu nascimento. Comemora-se agora o seu falecimento. Nascimento e morte. Dois polos de uma vida. De qualquer vida.

E, curiosamente, se ao seu nascimento está, como se disse, ligado o mês de Maio, época do ano em que a Natureza arremete e irrompe sob a forma do renovo primaveril, a sua morte acontece, como sabemos, num novembro pardacento, em que essa mesma Natureza deixa morrer uma a uma, as folhas que na primavera brotaram, prenunciadoras de uma grande força vital!

Terá sido um privilégio, este princípio e fim de um Poema, segundo o ritmo das leis da Mãe Natureza?

Não sei. Sei apenas que, como poeta, ele sentia mais que os outros mortais, a alegria de uma primavera, a melancolia outonal, a vida que mal teve tempo de olhar, mas que amou intensamente.

E é esse amor pela vida, transposto para a sua poesia, que talvez justifique, passados tantos anos, o facto de os seus poemas continuarem a ser ouvidos com interesse como, com certeza, hoje o foram.

E se é certo que, em “Orações do Amor” está o melhor que o Poeta nos deixou, não está com certeza o melhor que ele nos deixaria se o seu tempo de vida tivesse sido mais longo.

Mas há desígnios que são insondáveis e ele partiu deixando como as estrelas, um rasto de luz que, passados cem anos, continua a brilhar no universo da poesia.

Esta poesia de que aqui deixo notícia, restando-me desejar que possa esta aproximação à obra de António Fogaça. Modestamente contribuir para fazer aumentar o interesse pela sua poesia e que ocupe na sensibilidade de todos os barcelenses, de todos os minhotos, de todos os que gostam de poesia, o lugar a que tem direito.

Porque, parnasiano ou romântico, próximo de Gonçalves Crespo ou de João de Deus, o génio vivia nele. A chama estava lá.

Essa chama que engrandece, endeusa, que glorifica.

 

quinta-feira, 25 de maio de 2017

MINHAS AVÓS – Memórias

Elas sobem a corrente. Perdem-se a montante
Entre soutos, carvalhais e prados,
Soltam cantigas brejeiras
E risadas de água fresca
Folguedos de romaria…
Lenços de cor as enfeitam
E em noites de espadelada
Sonham com bragais de linho
Cordões de ouro, arrecadas…

Minhas avós diligentes construíram pedra a pedra
A casa, o forno, a lareira,
Seus passos ainda ressoam entre as hortas e a eira
No chão duro da cozinha,
Gestos de pão repetindo.

As minhas avós são belas, faces de milho ceifado
Nos olhos o sol da eira
Nas mãos ternura de brisa. Ou fúrias de ventania.

As minhas avós são fortes.
Se a tempestade as derruba, logo se erguem Sozinhas,
De punhos cerrados a enfrentam.

As minhas avós são sábias, Sabem do pão e do vinho
E das barrelas do linho. E sabem de benzeduras,
De preces e esconjuros.

As minhas avós são férteis.
Parem de dois em dois anos. Às vezes um pouco menos.
De seis em seis vai-se um filho. Às vezes um pouco mais.
Usam de recato na dor.
E em mal contida ternura esboçam mudas carícias,
Essas que o olhar desvenda no doce embalar do berço…
Cantam penas? Cantam risos?

Penélopes elas são. De tormentos sabem bem.
E de muitas fomes contidas e sedes mal apagadas.
Em branda melancolia evocam longes Brasis,
Partilhando solidão e cinzas que o vento não quis.

Minhas avós-coragem, p’la dor derradeira esperando
Não sabem de metafísicas, angústias existenciais,
E não rejeitam o eco da primeira dor sofrida,
Essa dor em que nasceram.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Como um rio, a vida


Águas revoltas, céu de Janeiro.
Estrelas velidas, prenúncios de sorte...

Águas azuis por entre os salgueiros
Correndo ledas, correndo vão...

Plenilúnio. Erva cidreira.
Rosa de Agosto por sobre as águas.
Rio profundo, águas passadas...
Rio de vida, anelos, desvelos,
Que a vida insiste. E a rosa 'inda existe
Nos cabelos..

Crepitam secas, folhas de Outono,
Ao vento se dão e lá vão tão sós...

Acenos, presságios, fundos suspiros.
Pontes caídas.
Mais largas as margens
Mais perto
A foz.

(Inédito - Maio de 98)

quinta-feira, 11 de maio de 2017

CARTA PARA PABLO NERUDA


Eras jovem e poeta. Eras tão jovem!
Te bastaria erguer a mão para tocar uma estrela,
Num tempo em que o tempo era de rosas.

Depois é o mar.
Altas arribas. Costa mordida pelo sal.
Como um búzio, respiras sonoramente
Lá onde batem as asas das gaivotas,
E a vastidão azul, imensa, é a paz.

Aí na tua Ilha Negra
Praças e ruas não existem. Apenas o mar.
E o céu tão perto “qual doce jacinto azul”…
Na rude falésia, precário abrigo, em pasmo te deténs.
Em rudimentar mesa, escreves
Palavras de amor, coragem e revolta. E em cada Poema voas mais alto.


Por entre folhas secas de outono,
Aí onde renascem as palavras,
Tu e ela, dois rios cujas águas se juntaram, à hora do poente.

Aí, na Ilha Negra,
Vertical como falésia, permaneces
E o clarão do teu labor é aurora boreal.
Com mais ninguém te pareces…

Nostálgicas as horas, soam em cada entardecer violeta
Depois que a música escarlate dos teus versos
Se abrigou na concha do silêncio.


Crua é a madrugada, mordida pelo vento.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Há tempos, alguém que, nas horas vagas, gosta de filosofar teceu estas considerações: Quando inesperadamente o raio cai sobre a árvore e a destroça, resta, após a luz que cega e o estrondo que ensurdece, a estupefacção, o assombro que paralisa; o silêncio. É um momento que irremediavelmente divide o tempo em dois, e nada mais volta a ser como até então. Porque, a partir daí, passa a haver o “antes” e o “depois”.

Foi em julho de 1996 que, neste jornal se publicou o meu último artigo, intitulado “Daqui de Cambeses”. Depois foi o silêncio. Não por razões de menos consideração por esta jornal e pelos amáveis leitores que estranharam a minha ausência, mas sim por razões pessoais que não cabe aqui explicitar.

O ser humano, porém, tem incalculáveis reservas de energia e dia vem em que, contra todas as expectativas, consegue olhar em redor e verificar que, apesar de já nada ser como dantes, o sol continua a brilhar. E há aves pelo meio da folhagem, e há seiva e húmus e vida.

E por tudo isso, e apesar de ter chegado a admitir que não mais seria capaz de voltar a escrever estes despretensiosos artigos que vozes amigas, ao inquirir da razão do meu silêncio, diziam apreciar (a amizade tem destas coisas), aqui estou, afinal, na intenção de encetar um novo conjunto de crónicas, muito ao meu jeito.

O título é outro, o modo de escrever também já não será o mesmo do tempo de antes. Mas o afeto pela terra onde me criei, esse não sofreu alteração. Senti-o com mais agudeza ainda, perante novas provações por que fui obrigada a passar quando o raio caiu de novo e de novo destroçou mais uma árvore.

Foi precisamente a partir desta nova provação que, nos testemunhos de consideração e afeto recebidos naqueles dolorosos dias de setembro passado, pude perceber que, em Cambeses, apesar das transformações exteriores, os valores tradicionais aí estavam inalteráveis, traduzidos no respeito perante a morte, nos gestos de solidariedade, nas manifestações de simpatia, e onde, a par de discreta mágoa, havia sinais inequívocos de amizade.

E então, como forma de agradecimento, porque outra não sei, deitei mãos a um antigo projecto que era, dentro das minhas limitações, deixar em livro alguns apontamentos sobre a minha terra. Por isso revi todos os informes colhidos durante vários anos, com inestimáveis ajudas daqueles que não mais o poderão fazer, consegui juntar a estes algumas outras informações, e a obra foi crescendo e o tempo virá, não muito longínquo, em que todas essas informações, como disse, pacientemente colhidas uma a uma e depois coligidas, tomarão a forma de livro.

Peço aos meus leitores, em especial, que nada terão a ver com Cambeses, me perdoem ter ocupado todo este espaço a falar de mim ( o que não gosto), das razões do meu silêncio, e do livro sobre Cambeses, consequência indirecta desse mesmo silêncio. Trata-se porém de uma obra que, ao ficar ao alcance de todos aqueles que, como eu, aí cresceram, lhes permitirá saber algo mais sobre esta terra que nos ajudou a fortalecer e, de um modo muito particular, nos ensinou a olhar o mundo.


Crónica publicada no Jornal de Barcelos de 3 – 2 – 2000

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Já passaram largos dias, mas a imagem daquela tarde de domingo vivida com os meus conterrâneos de Cambeses está tão presente em mim como se hoje mesmo tivesse acontecido. Talvez mais terna, mais luminosa, porque guardada na memória afectiva, permitindo-se assim analisar, de forma mais serena, a emoção das horas intensamente vividas, tudo o que os meus sentidos, naquela tarde, puderam alcançar.

Sempre acreditei na amizade, sobretudo numa amizade como esta, alicerçada no mesmo chão, onde raízes comuns contribuíram directamente para que aquela tarde de domingo acontecesse. E também os conterrâneos presentes, sobretudo no momento do autógrafo, não perdiam a oportunidade de dizer uma palavra amiga ou de transmitir a mensagem de quem não pôde estar presente e gostaria de estar.

Quanto a nomes, embora gostasse de o fazer, não vou citar nenhum porque, involuntariamente se pode dar origem a situações menos desejosas.

Do êxito daquela tarde de domingo, que aconteceu porque Cambeses assim o quis, falaram os jornais barcelenses, pelo que não vou repetir o que ali foi dito. Mas uma coisa há que não posso deixar de salientar: é, para além da presença dos amigos que de longe vieram, o facto de a imprensa barcelense ter estado marcadamente representada, embora tivesse de percorrer muitos quilómetros para, na periferia do concelho, assistir a um evento de interesse local, depois de, generosamente, ter falado desse ato cultural que à freguesia, sobretudo, diz respeito.

E, refira-se, falaram de um modo que a todos nós, cambesenses, agradou profundamente o que, e para só citar um caso, não aconteceu no artigo inserido num grande jornal diário do Porto, em que o jornalista, como já tive ocasião de referir, apesar da sua conhecida competência, foi pouco feliz nas notas que tomou quando se deslocou a esta freguesia, e menos feliz ainda, no artigo que escreveu acerca da mesma.

Com os jornalistas da imprensa barcelense foi diferente. E tudo isso se deve ao bom profissionalismo desses mesmos jornalistas, a quem não posso deixar de agradecer a simpatia e cuidado postos nas notas que foram tomando para a elaboração do texto. Não pude agradecer-lhes pessoalmente, e dessa minha falta involuntária aqui me penitencio, embora sabendo que compreenderam a razão desse meu impedimento.

E ao mesmo tempo que agradeço à imprensa barcelense, quero agradecer aos meus amigos da cidade de Barcelos que, relegando para segundo plano o convívio com a família, tanto mais que era domingo e o sol brilhava generosamente, convidando a um passeio até à beira mar, não hesitaram em vir até aqui. Não vou citar nomes por razões óbvias.

Mas sei o sacrifício que alguns deles fizeram e o seu empenhamento para que este ato resultasse como resultou. Mais uma vez a todos o meu “muito obrigada”.

Quanto à Monografia, ela aí está, tentando explicar, dentro do possível, a razão de Cambeses ser, ainda hoje, conhecida por Couto, esperando que, a não ser malevolamente (e isso não é possível impedir) os outros, os que não são daqui, se refiram a esta terra com o respeito a que o povo desta freguesia sempre teve direito. Direito ao respeito, direito à admiração, pelo passado de coragem, persistência e fidelidade aos seus valores ancestrais.

Daí o meu orgulho pessoal de ter nascido em Cambeses, como minha bisavó Felícia nasceu, há muito mais de cem anos. Essa mesma terra onde minha bisavó Pilar, nascida na Galiza, quis ficar para sempre, junto dos restos mortais de seu filho Gonçalo.

Crónica publicada no Jornal de Barcelos de 3 – 2 – 2000

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Como é sabido, há muitos escritores que são convidados para ir aqui ou acolá com o objectivo de dissertarem sobre este ou aquele tema, sobretudo livros, seja os da sua autoria, seja simplesmente “o livro” como meio difusor do conhecimento. E, a propósito, direi não ter por costume falar nestas páginas da minha faceta de escritora mas, na circunstância, não posso deixar de o fazer.

Vem isto a propósito do seguinte: acedendo a um simpático convite do corpo docente de uma escola barcelense do primeiro ciclo do Ensino Básico, como agora se chama ao antigo Ensino Primário (o qual por sua vez tinha já sido chamado “das Primeiras Letras”), desloquei-me um dia destes a uma dessas escolas, mais propriamente, à escola da Gandarinha, que fica na freguesia de Galegos, S. Martinho, uma terra de artistas do barro, segundo julgo saber.

Confesso que levava comigo alguma apreensão, para não dizer receio, quanto ao modo como iria ser recebida por essa gente de palmo e meio mas, mesmo assim, dispus-me a enfrentar esse grande grupo de gente pequena, embora não sabendo, por falta de experiência, o que me esperaria, tanto mais que aos meus ouvidos continuavam a soar vozes de alguns “velhos do restelo”, que os há em todos os lugares e situações.

Não tardou porém que todos os receios e prevenções de que vinha munida se evaporassem como por magia e, encantada, vi alguns deles aproximarem-se de mim de forma descontraída, como se há muito nos conhecêssemos e, ufanos, chamarem a minha atenção para os quadros expostos, ou seja, os desenhos com legendas que eles haviam feito, inspirados num determinado conto infantil, tendo alguns deles modelado em barro os animais que eram as personagens desse conto muito simples, que um dia escrevi.

E assim, após ter admirado a exposição dos pequenos artistas, foi-me dado assistir à dramatização do referido conto, toda ela desempenhada com muita sensibilidade e arte, merecedora de largos aplausos. Finda esta, os pequenos rostos (mais de cem) cujo olhar curioso e inquiridor me fez sentir como quem vai prestar provas perante um júri exigente e inexorável.

Passado porém o primeiro impacto e afastado o meu breve constrangimento, senti-me agradavelmente surpreendida com a atenção dessas “pessoas tão importantes” (não é ironia) que com a descontração própria da idade me dirigiram as primeiras perguntas. Perguntas bem estruturadas, ordenadas, por vezes imprevistas, as quais tiveram o condão de estabelecer entre nós uma rápida e firme empatia.

O tempo passou quase sem se dar conta e, como sempre acontece, a hora de terminar o nosso convívio chegou e vi-os retirarem-se ordeiramente (com a vivacidade que lhes é própria, evidentemente), sem uma advertência, uma repreensão, um aviso. Foi, ouso dizê-lo, uma experiência que resultou em pleno. Evidentemente que tal não aconteceria se antes não tivesse havido uma conjugação de esforços por parte de todos os elementos da escola, como aliás é indispensável que haja sempre que enfrentem situações que não tenham a ver com as do quotidiano. Que dizer mais? Dizer apenas que gostei não chega, porque me entusiasmei e também me comovi, tenho de o confessar.

Maravilhei-me, acrescento, e intimamente aplaudi o esforço desse grupo de jovens professores que soube encontrar forma de explicar à sua “gente de palmo e meio” a importância do livro e da leitura, incutir-lhe de forma indirecta, que um escritor é um ser humano como outro qualquer, que não vive numa redoma, e que, além de escrever histórias, sabe falar, rir e escutar, tal como os adultos com que eles, no seu dia a dia convivem, de uma forma ou de outra.

E, já de regresso, entregue às minhas reflexões, vieram-me à ideia os companheiros de escola, os da minha geração, que é a da palmatória, esses que, em grande parte, não só têm dificuldade em aceitar os atuais métodos de ensino, como também criticam e reprovam quase tudo o que é inovador, (não nego que haja nos novos programas aspectos que dificilmente poderão merecer o nosso aplauso), mas não podemos criticar a torto e a direito, só porque é diferente.

Por esta razão julgo que, se acaso alguns desses companheiros me lerem, talvez não acreditem na autenticidade das minhas impressões e emoções, e rebatam o meu ponto de vista, mas por aqui me fico. Não quero nem posso enredar-me em teorias que envolvam didácticas e pedagogias, porque correria o risco de revelar ignorância, uma vez que nunca exerci a docência neste nível de ensino.

E, além disso, seria alterar a minha intenção inicial, que é dizer, sobretudo, do meu agrado por ter estado na Escola da Gandarinha e porque fiquei feliz com essa experiência. Em relação aos professores, não posso deixar de testemunhar a minha viva admiração pelo trabalho que executaram previamente, para que esse encontro resultasse como resultou, tanto mais que, segundo julgo saber, uma parte significativa desses alunos provêm de famílias onde possivelmente pouco se falará de livros e de escritores e, muito menos, se perderá tempo com leituras.

Daí a razão de aqui ter vindo falar dessa experiência, porque, bem o sabemos, acontecimentos destes não despertam o interesse de quem tem por ofício dar a conhecer grandes acontecimentos (sobretudo chocantes).

Mas, julgo eu, se por um lado acontecimentos destes não chocam a opinião pública, por outro lado ninguém poderá negar o quanto é agradável falar da beleza de pequenos-grandes eventos como este. E saber-se deles também!


Crónica publicada no Jornal de Barcelos de 6 – 11 – 2000