terça-feira, 22 de novembro de 2016

Para além de sentimentos e impressões colhidos em Goa, várias foram também as sensações experimentadas. Essas a que, na circunstância, não se consegue fugir, a primeira das quais costuma ser a visual, se acaso se chega de dia a qualquer terra desconhecida. Essa mesma que se nos ofereceu, à chegada a Goa, onde imagens várias se nos depararam, ainda através da janela do avião, ávido o olhar, despertos os sentidos.

E mais tarde, quando já refeitos da viagem, pudemos partir à descoberta de Goa, foram de novo as sensações visuais que mais nos empolgaram, através do esplendor da flora goesa, tão rica, tão variada, tão fascinante. Apesar disso, a imagem dos coqueiros conseguiu impor-se à nossa atenção, dada a sua profusão: coqueiros na borda da estrada, perigosamente inclinados para a faixa de rodagem, coqueiros nos quintais murados, ao lado das típicas casas goesas de rés-do-chão.

Coqueiros que iríamos encontrar em todas as praias, em todos os jardins, pelas áleas – finas silhuetas no contraluz do rápido entardecer, essa hora em que as cores se tornam mais íntimas.

As cores de Goa, sensação visual intensa, nela recordo as cores dos saris, belíssimos, de fina seda. As cores dos frutos. A cor vermelha das vagens da pimenta a secar em mantas diante das casas, ao lado das flores, em especial a dos maciços de buganvílias polícromas e sumptuosas, pujantes como ainda não vi em Portugal, mesmo em tempo de intensa floração, quase anulando os hibiscos, escarlate ou brancos, e as acácias, mais discretas na sua floração amarela.

E os seus perfumes, aliados aos perfumes das especiarias que, na feira de Mapusa, vi vender. Especiarias naturais ou manuseadas no caril, esse condimento tão usado na cozinha indiana, cujo paladar intenso quase diria explosivo, nos deixava por vezes semi-sufocados.

E a sensação de calor, mais violenta nos meses que antecedem as chuvas, esse calor persistente, pesado, carregado de humidade, que dia e noite nos fustigava, mas cuja incomodidade conseguíamos vencer.

E o canto das aves, e muito especialmente o grito intenso das gralhas, rouco e cavo, persistente, mesmo de noite, a encher-nos o ouvido com seu tenaz protesto. Gralhas ladinas e astutas, a saltitar muito leves até ao extremo dos ramos.

E os sons do mar, manso e continuo, a estender-se pelas praias longas e limpas, quase desertas, orladas de coqueiros, onde o tempo parece correr mais devagar, sem lembranças nem preocupações, frente a esse mar tépido e pacífico.

E os rios quase silenciosos e lentos, tranquilos, cujas águas a ganância e a inconstância dos homens ainda não poluíram. Rios barrentos ou límpidos, rios de peixe, rios de pão.

Rios. Mar. Praia. Florestas. Casas pequenas. E em tudo uma sensação de paz, de tranquilidade, de confiança. Sensações estas aliadas à, de dia para dia mais forte impressão, certeza – posso dizer – de que éramos bem vindos, estimados e fraternalmente aceites.

Crónica publicada no Jornal de Barcelos de 13 – 7 – 1995

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