terça-feira, 29 de novembro de 2016

Num destes últimos domingos, fui forçada a mais uma aventura pela estrada de Barcelos e, novamente, o caos aí esteve arreliador a ameaçar a todo o momento, não só com “toques” mas até com coisa pior. E isto porque parece nada haver, pelos vistos, que obrigue a atuar como gente civilizada certos cidadãos que civilizados se julgam só porque conduzem um carro.

Basta observar o pandemónio que aos domingos continua a verificar-se à porta das discotecas e restaurantes que há pelas aldeias. Evidentemente que não são todos, os que assim procedem. Será uma reduzida minoria, se percentualmente considerados. Mas são o suficiente para perturbarem quem, por necessidade ou prazer a que tem direito, circulam por estas estradas camarárias.

E, a este propósito, não posso deixar de me lembrar do trânsito nos países do Oriente, onde me foi dado circular. Excluindo a Malásia e a Coreia do Sul, ou ainda a Ilha Formosa, onde as auto-estradas abundam e as bicicletas quase não existem, o pandemónio nesses países era total. Ou antes, seria se acaso ele se processasse com os nossos desabridos condutores e não com gente paciente como o são os chineses e os indianos também.

E lembro-me m especial das estradas de Goa, onde dois autocarros, para se cruzarem, um deles tinha de se arrumar na valeta, evitando, no último segundo o choque que parecia eminente, tudo se resolvendo sem impaciências nem insultos, como por cá se presencia às vezes, mas antes com compreensão e esse dom que falta a alguma gente bem enfarpelada e se chama “Boa Educação”.

Mas quando não era o cruzamento entre dois carros a reter-nos a respiração, eram outros os obstáculos, desde um pachorrento carro de bois, perdão, de búfalos, que continuava na nossa frente sem que o condutor do nosso autocarro ou do táxi se irritasse, ou então era “vaca sagrada”, como todas, que resolvia dormir a sesta em plena estrada, a qual se tinha de contornar com perícia, ou então um porco ou uma porca com uma ninhada de filhotes atrás, que se lembrava de atravessar a estrada, ou até o pequeno bando de galinhas, ou um simples cão que, no último momento, o motorista, com perícia, evitava atropelar.

Claro que as condições de vida na India são outras que não as do ocidente, embora em Goa não haja, como aqui já tive ocasião de referir, essa espectacular miséria que se pode observar nas grandes cidades da Índia.

E se não há, consequentemente, pelas estradas de Goa, esta nossa profusão de carros novos, há, o que para mim é bem mais positivo, um espírito de compreensão e respeito (e pelos animais também), e algo mais que se chama delicadeza, sensibilidade, educação.

Crónica publicada no Jornal de Barcelos de 29 – 9 – 1994

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