segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Diz quem das estatísticas se ocupa, que Portugal é, a nível da CEE, um país onde se verifica um dos mais baixos índices de leitura.

Há quem justifique esta situação alegando que o livro é caro, embora saibamos que é possível adquirir livros baratos desde que não se deixe dominar pelo fascínio de uma recente edição, sobretudo se esta for de luxo, desde que saiba aproveitar as feiras e desde que se disponha a pacientemente procurar, nos alfarrabistas, obras do seu agrado.

Além disso há as bibliotecas que oferecem, como se sabe, consulta grátis dos seus livros, bem como leitura domiciliária, que é para isso mesmo que essas bibliotecas públicas, ou municipais, foram criadas.

Embora me sinta tentada a fazê-lo, não vou estabelecer comparações entre o preço de um bilhete para futebol ou para um espectáculo de variedades, e o preço de um livro de aspeto gráfico minimamente apresentável, já que todos sabemos que esses ingressos são de preço elevado, por vezes bastante elevado, e apesar disso têm muita procura.

Não estabeleço, repito, comparações, mas não resisto a falar das livrarias, que entre nós, cada vez mais são menos, sinal evidente de que cada vez se “consome” menos livros.

E, a propósito, vem-me à ideia algumas cidades estrangeiras onde as livrarias são numerosas e, a este propósito, não posso deixar de citar aqui o que, tempos atrás, pude observar na cidade de Nápoles, onde me foi dado estar como participante no congresso “Portugal e os Mares”, organizado pela Faculdade de Letras daquela cidade.

Faltavam poucos dias para o Natal. As ruas estavam iluminadas, como é costume nesta época, e havia muita gente na rua. Mas não havia apenas profusão de lojas de modas ou de brinquedos. Havia também uma presença acentuada de livrarias e nelas a presença de clientes interessados. E havia vendedores ambulantes, com o seu tabuleiro de livros em vez de bugigangas. E para eles havia clientes também.

E é pensando nisto tudo que me sinto um tanto ou quanto perplexa, e recordo o que me dizia há tempos um responsável dinâmico de uma biblioteca municipal: “É costume, porque fácil, responsabilizar-se o poder central por este estado de coisas, mas se todas as câmaras, através do seu pelouro da cultura e das bibliotecas, ativassem os necessários maquinismos para atraírem potenciais leitores, sobretudo entre a gente jovem, o gosto pela leitura e pelas acções a que a literatura anda ligada aumentariam, e então talvez deixássemos de ser esse povo quase ignorante, que não compra livros mas gasta o bastante com o clube da sua preferência, esse mesmo que o presidente da sua câmara patrocina de modo especial.”

Ou aquele que não compra livros porque são caros, mas a aparelhagem de som que possui não condiz com esse seu sentido de economia. E muito menos o carro (que poderia ser menos dispendioso) que lhe enche o peito de vento e o faz sentir-se outro homem quando se senta ao volante.

Será que estou a exagerar?


Crónica publicada no Jornal de Barcelos de 11 – 1 – 1996

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