terça-feira, 4 de outubro de 2016


Uma vez mais vou falar do jornal que em Cambeses tinha a sua sede e se intitulava “O Domingo”, e de alguns aspectos interessantes relacionados com este semanário que durou, como já se disse, exactamente dois anos e cuja publicação não falhou um único número, já que foram precisamente cento e três os números publicados nesse espaço de tempo.

Entre muitas coisas, há nele uma nota curiosa, dirigida ao leitor: “depois de lerdes este boletim, passai-o a outros para que o leiam também.”, o que pode ser interpretado como um desejo de enriquecer culturalmente o público leitor, que seria sobretudo o de Cambeses, e o de Nine também, freguesia esta que, como se sabe, embora pertencendo ao concelho de Vila Nova de Famalicão, é vizinha de Cambeses, ligada a ela por vias de fácil acesso, quer ferroviariamente, quer rodoviariamente, quer pedestre.

Mas voltando ao “Domingo”: não sei se o público de Cambeses correspondia ou não a esse desejo do editor do jornal. De qualquer modo não me parece haver razões para optimismos, embora, como já tive ocasião de dizer, muito antes de aparecer este jornal, já a escola funcionava em pleno, preparando assim potenciais leitores. E se não me parece haver razões para optimismos em relação a um facto passado, este é baseado no presente panorama cultural da freguesia, cujo nível de vida subiu nas últimas décadas, espectacularmente… mas só isso. Claro que há casos a ressalvar, mas poucos infelizmente.

Quanto ao editor, conheço pouco ou quase nada da personalidade do Padre Peixoto, mas parece não haver dúvidas de que era um homem que, possivelmente, dentro das limitações que a sua condição de pároco lhe impunham, se interessava pela Cultura e, a par disso, vibrava com a situação política do país. Era uma época, não só ainda de transição, já que a monarquia, como se sabe, findara pela força, poucos anos antes, mas também uma época de instabilidade, agravada pela situação que então se vivia perante a Primeira Grande Guerra. Todo um conjunto de circunstâncias que teriam forçosamente de exaltar os ânimos de todos, e o Pe. Peixoto, tal como o seu colega de Nine, não seriam exceção.

Daí a razão de ser deste fragmento (saboroso) de um texto que foi incluído numa secção então recém-criada do jornal e intitulada “Polémica”, o qual não resisto a transcrever, ressalvando desde já qualquer lapso, porque os elementos que possuo são simples apontamentos e não fotocópias, impossíveis de obter de momento, como alguns saberão.

Foi publicado no número 53, de 30 de maio de 1915 e reza assim:

“(…) o estado não quer para si religião: deixemos isso. Mas não impeça que os religiosos se juntem, praticando as virtudes cristãs. Isso é inconcebível tirania, que só pode ocorrer no México e há oitenta anos em Portugal.

E depois fala-nos em amor e em carinho e em costumes brandos e nessas costumadas banalidades de enganar papalvos.

Quem lhes desse a todos com um gato morto. Até o gato miar, ou miarem eles.”

E por hoje ficamos por aqui.


Crónica publicada no jornal de Barcelos de 21 – 3 – 1996

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