terça-feira, 25 de outubro de 2016

Foi em Xangai, de visita ao Museu de História, ouvindo as explicações do guia acerca das porcelanas expostas que, por uma associação de ideias, me lembrei dos barros da nossa terra, de cuja origem não me vou ocupar aqui por várias razões, entre elas a de não ter formação académica específica que me permita alongar-me sobre o assunto.

Portanto limitar-me-ei a dizer que gostei de ouvir Wang, o nosso guia chinês em Xangai, que se expressava em espanhol, contar-nos a história da cerâmica chinesa, materializada em objectos utilitários e de adorno, cuja história se perde nos tempos, ao mesmo tempo que documentam a milenar história da China em épocas várias.

Segundo uma lenda chinesa, o primeiro recipiente em barro resultou por acaso, quando alguém, tendo construído um cesto em palha, o pintou com barro para o tornar mais útil e firme. Depois deu-se um incêndio e a palha do cesto foi destruída e, consequentemente, o barro cozido, o que o tornou suficientemente sólido para se aguentar no uso a que se destinava.

Assim começou, segundo a lenda, a fabricação da loiça que, milénios depois, iria dar lugar às delicadas porcelanas chinesas que, para serem autênticas, dizia-nos Wang, têm de ser transparentes como jade, finas como o papel, brilhantes como um espelho e sonoras como uma campainha.

Evidentemente que as peças do nosso barro não têm estas características, mas não deixam de ser belas e de ter projecção internacional, como é o caso do galo, cujo simbolismo corre o mundo e é um feliz exemplo de criatividade artística. No que se refere a objectos de uso diário, criados a partir da roda do oleiro, se não têm as características delicadas da porcelana chinesa, têm uma harmonia e delicadeza de formas notável, como por exemplo o cântaro de barro que as mulheres iam encher à fonte e transportavam à cabeça, sem o segurar com as mãos, num prodígio de equilíbrio e elegância dignos de registo.

Belas como esses cântaros são as caçoilas de três pernas e os alguidares vermelhos e vidrados, bem como as almofias e prateiras, igualmente vidradas, apresentando desenhos ornamentais delicados e imaginativos. Hoje quase se poderia dizer que esses objectos mais não são do que peças decorativas, porque o plástico veio substitui-los na utilização diária. Daí, ao serem transformados em objectos de adorno, tornaram-se, consequentemente, apreciados, não pela funcionalidade, mas sim pela elegância de linhas e delicadeza de decoração, sobretudo se se trata de barro vidrado.

Em tudo isto pensei, escutando as explicações do solícito guia, que Wang se chamava, e orgulhosamente falava da milenária história da China, que os fragmentos de cerâmica das vitrinas documentavam, tal como acontece em qualquer parte do mundo em que há arqueólogos apaixonados, como aliás acontece em Barcelos, sendo exemplo essa exposição de arqueologia que saiu dos muros da cidade e se estendeu ao mundo rural para, deste modo, dar a conhecer as origens desta terra chamada Barcelos.

Por tal motivo não posso deixar de aproveitar a oportunidade para dizer aos mentores e executores de tal acontecimento: Parabéns!

Crónica publicada no Jornal de Barcelos de 27 – 1 – 1994

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