segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Hoje vou falar da minha terra, mais propriamente de Cambeses, para manifestar a minha surpresa quando deparei com um artigo e fotografias num jornal diário do Porto, acerca de Cambeses.

Não sei se o jornalista ficou dececionado por não ter encontrado aquilo que possivelmente esperaria encontrar, ou seja, informações de interesse histórico (insólitas se possível) acerca do lugar chamado Brasil. Não sei. Sei apenas que, lendo atentamente o artigo, me pareceu adivinhar, pelo tom da escrita, algo parecido com “vim a Cambeses perder o meu tempo”. Sem querer menosprezar o trabalho do jornalista (um nome já bem conhecido e que tem feito belíssimas reportagens) também eu, intimamente, lamentei que não houvesse, ainda, nada escrito acerca da história desta terra, cujo nome é mais antigo que o nome de Portugal.

Mas não é só de agora esse meu estado de espírito. Daí ter vindo a coligir, ao longo da vida, todos os apontamentos obtidos das mais diversas formas, acerca de Cambeses, nas investigações a que me dispus para elaboração de uma monografia de Cambeses. O nome "Brasil", como lugar desta freguesia, não me pareceu relevante na história da população, o que se compreende, se se disser que, até há bem pouco tempo, só lá havia uma casa. Acrescento que, presentemente, há sete, o que diz bem de uma certa forma de progresso que ultimamente invadiu a freguesia.

Não me foi possível, por falta de disponibilidade, averiguar desde quando este lugar aparece nos registos paroquiais, mas de certeza que não é tão antigo como o lugar da “Madalena” onde funcionou durante séculos a Casa do Paço, sede do Concelho do Couto de Cambeses, pois que, até a forma arcaica do nome Madalena (Madanela) assim o indica.

Em face de tudo isto, parece-me gratificante ter gasto muito do meu tempo a recolher apontamentos nos mais diversos lugares, como seja em Lisboa, na Torre do Tombo, ou em Braga, no Arquivo Distrital, ou no Arquivo Municipal de Barcelos ou, simplesmente, na tradição popular, destacando desta, a preciosa colaboração que, pessoalmente, quer de forma oral, quer por escrito, me ofereceu o nosso conterrâneo Camilo Gomes de Sá, um nome que a freguesia não pode deixar cair no esquecimento.

E a propósito da recolha desses apontamentos acerca de Cambeses, é com compreensível satisfação que anuncio que o livro irá ser posto à disposição dos habitantes da freguesia e dos que dela andam arredados, no mês de agosto, em data a anunciar.

Perdoem-me a imodéstia, mas é um livro que Cambeses desde há muito merecia. Quis a sorte que fosse eu a escrevê-lo. Outros o lerão. E oxalá que, depois de o lerem, se sintam orgulhosos por descenderem de um povo que, apesar de ter sofrido toda a sorte de vicissitudes que as transformações políticas por vezes causam, soube pacificamente, mas com toda a dignidade, resistir, contornar os obstáculos, permanecer.


Crónica publicada no Jornal de Barcelos de 27-7-2000

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