segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Embora um concelho tenha a sua História própria, que o diferencia dos demais concelhos, cada freguesia tem a sua História, feita de pequenas histórias. Assim o compreendeu o Dr. Teotónio da Fonseca, que incansavelmente palmilhou todo o concelho, freguesia por freguesia, consultou arquivos e concluiu essa importante obra, que todos os barcelenses deveriam possuir como quem possui uma Bíblia (salvo o devido respeito), a qual se intitula “O Concelho de Barcelos, Aquém e Além Cávado”. Há tanto que aprofundar na História de cada freguesia, tanto que dorme na poeira dos arquivos! E Cambeses não foge à regra. Este velho Couto, com séculos de História. Por isso me interrogo: “será que nenhum dos jovens que agora estudam História entre outras coisas, e se sente atraído por esta matéria, porque é uma disciplina que atrai, sei-o bem, se ocupará um dia de desvendar todo esse passado desta antiga vila, hoje simples freguesia?

Bem sei que o principal símbolo de um passado importante era a Casa do Paço, e que esta desapareceu irremediavelmente, mas ficaram os arquivos, felizmente. Falta o entusiasmo e a coragem do jovem investigador, porque bem sabemos que esse tipo de pesquisa é moroso e difícil.

Mas sabemos também, o que é pior, que os cursos ou profissões que hipoteticamente poderão dar mais dinheiro, são os que estão na mira de quase todos, para não dizer “todos”. É o resultado deste clima que pelas nossas terras se vive, de uma sociedade consumista, mal-amanhada, egoísta, cujo preço começámos já a pagar (veja-se o nível de poluição que não para de crescer) e que eles, os jovens, vão pagar ainda mais caro que nós.

Deixemo-nos porém de pessimismos que, ao fim de contas, pouco ou nada adiantarão e voltemos à História de Cambeses, para falar do jornal que por volta de 1917, em Cambeses teve a sua sede e, como todos sabem já, “Domingo” se chamava.

Falando deste jornal, falaremos do seu editor, o Padre Peixoto, que carinhosamente trato assim, porque era assim que o ouvia nomear, se acaso era evocado nas conversas dos adultos de então.

E se acaso o trouxe a estas páginas, não foi por motivo fútil ou simplesmente por acaso. Falei aqui do Padre Peixoto porque houve um motivo sério para o fazer, que foi a sua coragem de manter, numa época difícil, um jornal, veículo de cultura, sem dúvida, já que a escola, então menos divulgada que hoje, não chegaria para cumprir a sua missão de educar e enriquecer culturalmente o povo da freguesia.

Não sei se o Padre Peixoto era rico e se era poderoso, para além da sua condição de pároco. Nem sei, igualmente, quais eram os homens mais ricos ou mais poderosos de então, e se acaso teriam nas mãos o destino da freguesia. Sei, isso sim, que se ele fosse simplesmente rico ou poderoso, em relação à freguesia, não seria esse o motivo para aqui me ocupar de tal individualidade, a não ser que a sua riqueza material tivesse sido canalizada para o enriquecimento cultural da população, riqueza que se teria multiplicado e dado os seus frutos, o que não aconteceu.

Portanto recordo-o pelo que fez pela cultura, não muito, é certo, mas em todo o caso louvável. Quanto aos bens materiais que os daquela época possuíam, e deram origem, possivelmente, ao Poder, à ostentação, à vaidade, esses com certeza que há muito o pó da terra os levou consigo.



De toda essa época, da freguesia, ficou o jornal. E a sua memória.




Crónica publicada no Jornal de Barcelos de 18-04-1996

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