quarta-feira, 20 de julho de 2016

Na minha última crónica citei um episódio onde alguém, lá para o sul, se referiu a Barcelos focando apenas aspectos menos positivos, embora houvesse uma certa verdade naquilo que foi afirmado.

Hoje porém, vou falar de algo mais agradável porque, por uma associação de ideias, me lembrei de um outro episódio e, consequentemente, de um outro interlocutor que, ao saber que eu era de Barcelos, logo me falou entusiasmado da cidade que disse conhecer.

Tratava-se de um jovem professor universitário suíço, que encontrei em Nápoles, num congresso em que se falava de Portugal, como já aqui referi, e que me surpreendeu ao referir-se, num português com alguma mistura de italiano e espanhol, à nossa cidade, onde tinha estado, segundo ele, num casamento (mais não explicou).

E falando da cidade, das ruas medievas, das gentes que ele achou simpáticas e afáveis, falou-me também dos nossos barros e de alguns momentos da História relacionados com Barcelos, que surpreendentemente mostrou conhecer, e acabou por me dizer que o que mais o impressionou em Barcelos (num domingo) foi uma enorme praça arborizada, quadrangular, rodeada de belos edifícios, pouco ou nada adulterados, e também por espaços ajardinados. E foi mais longe: disse que, para ele, devia ser a maior praça da Europa. Estava a referir-se, como adivinharam já, ao belo e bem arquitectado Campo da Feira.

Claro que houve alguém que logo o contradisse, afirmando que a maior praça da Europa se situava em Bordéus. Mas, seja como for, gostei de assim ouvir falar da minha terra e, por isso, tentei explicar-lhe que aquela vasta praça dominical, possivelmente silenciosa, seria a seus olhos uma outra bem diferente, palpitante de vida, se acaso ele a observasse numa quinta-feira.

E perante a sua atenção, e de outros que faziam parte do grupo, não resisti a falar do espectáculo borbulhante de vida que é a feira semanal, e da sensação que é andar no meio da multidão, sentir o cheiro da terra, e a frescura da fruta natural e pura (não calibrada); escutar o linguajar das gentes, observar o gesto contido de quem, vindo das aldeias, ali se mantém, paciente e atento, determinado e disposto a vender o melhor possível os produtos da sua horta ou capoeira, ou do seu artesanato.

Não sei se alguns dos que então me escutaram vieram já visitar Barcelos das quintas-feiras. Mas estou em querer que sim; que alguns já vieram e outros virão para demorar o olhar nesse quadro arborizado, autêntico e espontâneo, que pouco terá a ver com as tão discutidas directrizes da Europa para a agricultura e outras coisas que tais, e por isso mesmo deslumbra a quem não pensa apenas em “Euros”.

Tal como a grande praça, rodeada de edifícios de pouca altura, deslumbrou numa tarde de domingo um jovem professor, de uma qualquer universidade suíça.


Crónica publicada no Jornal de Barcelos 

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