Portanto, se escutar uma banda de música é um aprazimento, escutá-la longe, muito longe destas terras é, por vezes, a saudade, o enternecimento. Mas escutar essa banda executando o Hino Nacional de Portugal é muito mais que tudo isso junto. E se os acordes acompanharem o hastear da nossa bandeira, é a emoção a dar lugar ao empolgamento, a comoção que leva à vizinhança das lágrimas.
Aconteceu isso connosco, no dia da inauguração do consulado de Portugal em Goa, quando na hora própria, a banda, constituída por goeses, executou o hino nacional de Portugal, enquanto a bandeira das quinas ia subindo lentamente no mastro.
Não sei por quanto tempo o nosso olhar ficou preso na bandeira verde e rubra, ao lado da azul da CE, hasteada logo de seguida, ambas a drapejar aos ventos brandos de Goa, lá no alto do terraço do edifício, onde o Consulado ficou instalado. Sei apenas que é difícil explicar o que sente quem, estando do outro lado do Globo, vê de súbito as distâncias anularem-se e se deixa envolver por essa fraternidade muito especial, que a compreensão da língua portuguesa torna mais profunda.
Poderá parecer pieguice, essa pieguice que geralmente se receia e leva, numa situação destas, a tentar apagar qualquer vestígio de emoção.
Essa mesma que surpreendi no olhar de um jovem componente do nosso grupo que, num sorriso contrafeito, murmurou sem se dirigir a ninguém em especial: “ nunca pensei que isto mexesse assim tanto comigo, pá! Acho que estou a ficar velho…” Acrescentou ainda, tentando uma justificação para este breve estado emocional, que a sua condição de latino impelia a rejeitar.
Mas era a realidade, essa maneira de ser portuguesa, que só por si explica o desejo de voltar à terra de origem por muito bem que, materialmente se esteja numa terra de adoção.
Não se tratava aqui, porém, de um fenómeno de emigração mas de algo mais. Era o regresso (em moldes diferentes) de Portugal ao Oriente. Essa terra que nos recebia de braços abertos – lia-se no olhar dos muitos goeses que ali estavam, assistindo à inauguração.
Horas depois, no jantar incluído nestas cerimónias, e onde houve o cuidado de sentar às compridas mesas goeses e portugueses intercaladamente, razão das animadas conversas que em português se estabeleceram, no momento dos discursos que estas circunstâncias sempre exigem, o Cônsul Geral de Portugal, o primeiro a falar, disse mais ou menos estas palavras: ”Nós portugueses somos pequenos em muitas coisas, mas há uma em que realmente somos grandes: é a alma. Porque se não fosse a nossa grandeza de alma eles não nos teriam aceitado de volta!” Eles, os goeses, evidentemente…
Crónica publicada no Jornal de Barcelos de 5 – 1 – 1995
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