segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Escutar uma banda de música é sempre agradável e julgo não exagerar afirmando que as bandas de música jamais serão destronadas pela música gravada, essa que grita nas romarias, as suas estridências por vezes arrepiantes, de pôr os nervos em franja.

Portanto, se escutar uma banda de música é um aprazimento, escutá-la longe, muito longe destas terras é, por vezes, a saudade, o enternecimento. Mas escutar essa banda executando o Hino Nacional de Portugal é muito mais que tudo isso junto. E se os acordes acompanharem o hastear da nossa bandeira, é a emoção a dar lugar ao empolgamento, a comoção que leva à vizinhança das lágrimas.

Aconteceu isso connosco, no dia da inauguração do consulado de Portugal em Goa, quando na hora própria, a banda, constituída por goeses, executou o hino nacional de Portugal, enquanto a bandeira das quinas ia subindo lentamente no mastro.

Não sei por quanto tempo o nosso olhar ficou preso na bandeira verde e rubra, ao lado da azul da CE, hasteada logo de seguida, ambas a drapejar aos ventos brandos de Goa, lá no alto do terraço do edifício, onde o Consulado ficou instalado. Sei apenas que é difícil explicar o que sente quem, estando do outro lado do Globo, vê de súbito as distâncias anularem-se e se deixa envolver por essa fraternidade muito especial, que a compreensão da língua portuguesa torna mais profunda.

Poderá parecer pieguice, essa pieguice que geralmente se receia e leva, numa situação destas, a tentar apagar qualquer vestígio de emoção.

Essa mesma que surpreendi no olhar de um jovem componente do nosso grupo que, num sorriso contrafeito, murmurou sem se dirigir a ninguém em especial: “ nunca pensei que isto mexesse assim tanto comigo, pá! Acho que estou a ficar velho…” Acrescentou ainda, tentando uma justificação para este breve estado emocional, que a sua condição de latino impelia a rejeitar.

Mas era a realidade, essa maneira de ser portuguesa, que só por si explica o desejo de voltar à terra de origem por muito bem que, materialmente se esteja numa terra de adoção.

Não se tratava aqui, porém, de um fenómeno de emigração mas de algo mais. Era o regresso (em moldes diferentes) de Portugal ao Oriente. Essa terra que nos recebia de braços abertos – lia-se no olhar dos muitos goeses que ali estavam, assistindo à inauguração.
Horas depois, no jantar incluído nestas cerimónias, e onde houve o cuidado de sentar às compridas mesas goeses e portugueses intercaladamente, razão das animadas conversas que em português se estabeleceram, no momento dos discursos que estas circunstâncias sempre exigem, o Cônsul Geral de Portugal, o primeiro a falar, disse mais ou menos estas palavras: ”Nós portugueses somos pequenos em muitas coisas, mas há uma em que realmente somos grandes: é a alma. Porque se não fosse a nossa grandeza de alma eles não nos teriam aceitado de volta!” Eles, os goeses, evidentemente…

Crónica publicada no Jornal de Barcelos de 5 – 1 – 1995

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