domingo, 15 de novembro de 2015

Palavras do Presidente da APE

Participo com gosto, por este meio, na homenagem a Maria do Pilar Figueiredo, levada a cabo em Cambeses, sua terra natal. A mesma de Vítor Sá, outra personalidade que me é muito cara.

Faço-o enquanto Presidente da Associação Portuguesa de Escritores, de que é sócia, e em termos pessoais que não deixo de convocar.
Maria do Pilar é uma autora de assinalável bibliografia e uma mulher cujo percurso exprime feixes da luz a reter na presente circunstância: o trabalho desde a adolescência, a formação académica até à Licenciatura em Filologia Românica, o ensino, seu lugar de mérito, exigência e dádiva, a intervenção cívica, o labor literário e as vicissitudes. Admiro a pertinácia e dignidade, a lucidez e as realizações de uma vida assim aberta por entre obstáculos, indiferenças e envídias tantas vezes, inconformismos e triunfos.
Chegada à edição em livro já na meia idade, construiu pouco a pouco uma obra que críticos e companheiros de letras reconheceram. De "O Vento e as Raízes" ao último título seu que pude ler, "A Doce Flor do Hibisco", identificamos, acima de tudo, uma narradora atenta aos destinos individuais e às comunidades que privilegia, sítios do mundo ao abandono onde se fundem paisagens, usos e costumes, tempos, figuras e retratos, tradições e rupturas, ritos, imprevisibilidades, dramas, sonhos, conflitos, afectos.
Elegendo temas que, radicando amiúde na ruralidade minhota, projectam os contrastes procedimentais, a resignação e o rasgo transformador, os seus contos e romances, tão próximos dos simples e carentes - da infância à terceira idade e aos emigrantes em busca do pão e de uma existência melhor - excedem os contornos da representação sociológica para se inserirem nos universos emocionais da subjectividade. Irene Lisboa, Ilse Losa, Maria Ondina Braga, para referenciar apenas três das nossas ficcionistas inesquecíveis, não lhe são estranhas. Como não é nela a elaboração peculiar, identitária, de uma escrita em que a procurada singeleza formal não apaga labiríntos do ser, um olhar atento às injustiças, aspirações e complexidades da vida.
Eis, em síntese, o meu testemunho. A saudação a uma amiga que prezo e a quem desejo anos bons e, para proveito dos leitores, os melhores textos em devir.
12 de novembro de 2015
Um abraço fraterno
do
José Manuel Mendes 
Presidente da Associação Portuguesa de Escritores

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