domingo, 15 de novembro de 2015

Montes e Fontes, 2008




Registamos aqui o texto que Maria do Carmo Sequeira muito gentilmente partilhou no perfil de Maria do Pilar Figueiredo, e que reproduz as palavras que proferiu na sua apresentação do  livro "Montes e Fontes": 

"Montes e Fontes" conta uma história e conta-a na primeira pessoa, nesse jeito narratológico de nos transmitir os acontecimentos através de uma focalização específica, singular e única que acaba por nos envolver emocionalmente, sem nos deslocar para outras visões ou outras possibilidades internas de interpretar o seu percurso ficcional, mas que, paradoxalmente, permite ao leitor uma maior intervenção na análise e uma maior possibilidade de abrir o texto, sob o aparente fechamento do discurso. A temática de uma certa solidão, acompanhada pela presença silenciosa de familiares próximos, cuja expressão significativa não vem sequer dos gestos, mas da proximidade de afectos escondidos e suspensos, quase envergonhados; a vivência de um quotidiano rural que acompanha o Portugal de todas as carências motivadas pela 2ª grande guerra; o Portugal que atravessa a ditadura de Salazar até os anos da revolução e pós-revolução de Abril, esta temática, dizia, encontra-se com uma certa forma de narrar que é também um regresso àquele período incerto na configuração estética, que vai do modernismo ao pós modernismo, sem neste penetrar. Com um intervalo longo no tempo, mas curto no discurso diegético, passado em Lisboa – cidade vista pela protagonista em pequenos ângulos e pequenos fragmentos, como num intervalo de aventura; esta curta fuga a um passado igualmente curto (porque sintetizado) parece existir só para poder explicar o regresso às origens já transformadas e quase desconhecidas, criando ambiguidade na personagem e ambiguidade no leitor, como fusão da própria ambiguidade romanesca…

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