sábado, 21 de novembro de 2015

O vento e as Raízes




por Barroso da Fonte, no jornal Época de 11/12/1973:
"O Vento e as Raízes" de Maria do Pilar Figueiredo

Vão aparecendo, de quando em vez, nomes femininos que às letras dão o melhor da sua intelectualidade. Não são muitas, infelizmente, aquelas que surgem com direito a permanência, embora abundem as tribunas da mulher que se diz fadada para isto e para aquilo, quando nada tem que a recomende, em matéria de literatura. E se pouca são as verdadeiras cultoras das letras, há que bater-lhes palmas e convidá-las para o ariópago em que têm justo cabimento.
É o caso de Maria do Pilar Figueiredo que aparece, pela primeira vez, ao natural, sem recomendações de quem quer que seja, com um livro digno de a consagrar ensaísta de eleição.
Conhecemos pessoalmente a escritora, por ter sido sucessivamente distinguida com os melhores prémios, em certames literários, realizados depois de 1966. Quem se dê ao trabalho de ler a relação dos premiados desses concursos habituais entre nós e que constituem das poucas tentativas de cultura de certos meios, logo depara com o nome de Maria do Pilar Figueiredo, porque efectivamente concorre, sob pseudónimo e é-lhe, por norma, reconhecido o mérito que de outra forma iria parar àsd mãos de nomes familiares  do júri.
É daí que conhecemos Maria do Pilar Figueiredo, das sessões de entrega dos prémios, em que a sua modéstia temperamental se nota, o que mais a valoriza, já que a humildade continua a prestigiar as pessoas.
Ainda nos recentes Jogos Florais de Montalegre felicitámos a notável escritora, pelos troféus conquistados. E uma vez mais nos deu a nobre lição dessa humildade que tão bem assenta nas pessoas, sobretudo em ambientes de entusiasmo.
É desse conhecimento com Maia do Pilar que somos levados a tecer-lhe os encómios devidos, pela obra interessante que tem realizado e parte da qual reuniu no volume a que chamou "O Vento e as Raízes", distinguida pelo S.E.I.T. com o Prémio Revelação 1971.
São catorze episódios, que a autora compendiou, dentre os muitos que possuía e que deram nas vistas do júri daquele organismo oficial. Entendeu-se oportuna a sua publicação e aí temos um livro de estreia que nos afirma o muito mérito da estreante. Maria do Pilar chama-lhes histórias de emigração e, depois da sua leitura nota-se, efectivamente, uma vivência activa dos problemas emigratórios, tão próprios da última década. O conto Maria-Maria que lhe mereceu um honroso prémio num jornal diário, é exemplo expressivo da alta sensibilidade de Maria do Pilar Figueiredo, que redige admiravelmente e que sabe aliar a esse dom artístico a ficção fiel do drama quotidiano. Que belo fragmento de antologia resulta deste conto de "O Vento e as Raízes"! E há mais na obra pouco divulgada, mas profundamente vivida desta mulher que tarde enfrentou o público, mas que muito cedo lhe granjeou o apreço e a simpatia.
Diante de obras como esta, não receamos afirmar que continuam as letras contemporâneas a contar com valores altos, dentre a vivência feminina.







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