segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Após um curto afastamento das páginas deste jornal, o qual se deve apenas aos muitos afazeres que estas coisas da literatura sempre nos atiram para os ombros (porque nem sempre o ato de escrever se pode reduzir à alegria de criar) por tudo isto, repito, tive de fazer uma curta pausa neste género de escrita, que talvez se prolongasse, se um telefonema amigo não me tivesse feito saber que a minha ausência era notada por alguns leitores, o que me desvaneceu (perdoem a vaidadezinha).

E agora aqui estou, cheia de boas intenções, que é como quem diz, animada do firme propósito de ser mais pontual na publicação das minhas singelas crónicas, que outro jeito não sei.

Claro que não poderei deixar de falar de Cambeses, terra das minhas raízes, presentes tantas vezes nos meus livros, com os nomes que para ela invento. Ainda há pouco, falando eu de Cambeses, numa roda de gente das Letras, me disseram em jeito de provocação, que eu era de uma “terra de escritores” evocando, como é natural, o nome do maior de todos nós, que é o escritor Vítor de Sá, personalidade que o País conhece e admira, dada a extensão da sua obra literária, a sua carreira de investigador e de pensador.

Homenageado em vários pontos do País, nomeadamente em universidades, como me foi dado assistir na Universidade do Porto, o Dr. Vítor de Sá, é praticamente ignorado em Barcelos e, sobretudo, em Cambeses.

No entanto, ele tem um afeto muito especial por Cambeses, julgo poder afirmá-lo. Nota-se na atenção com que ouve e lê tudo o que de Cambeses lhe dá notícia. Ele próprio, escrevendo tem citado, ao referir o tempo da sua infância, os anos que viveu em Cambeses, terra de seu pai e do pai de seu pai, e na memória guarda imagens da grande casa do seu avô, os hábitos de então, a gente cujo viver era bem outro.

E citando este ilustre filho da minha terra, não posso deixar de citar um outro que, sendo da mesma família, tem uma dimensão acentuadamente diferente, porque diferentes foram as circunstâncias que o rodearam ao longo da vida, dificultando-lhe a necessária preparação académica. Trata-se da veneranda figura que, em Cambeses tem ainda muito quem o recorde, e se chamou Camilo Gomes de Sá, e deixou testemunhos escritos de certa importância para a história recente da sua terra natal.

Mas para além destes dois há ainda uma outra escritora, baptizada em Cambeses, jovem ainda, mas já com um livro de ensaio literário publicado, e premiado e, consequentemente, com o seu nome nos ficheiros das bibliotecas do País.

Outros haverá, porque a Casa do Paço acolheu, nas suas venerandas e desaparecidas paredes, homens de cultura e de Saber, que se empenharam para que a vila de Cambeses fosse uma das primeiras destas redondezas a ter escola, e que a população se enriquecesse pelo Saber.

Foi assim que eu defendi, expondo factos concretos, a minha terra, que nem sempre tem sido direccionada para outros bens que não sejam os materiais, daí a ausência de uma só que seja, associação de índole cultural, quando noutras freguesias (e eu poderia citar nomes) se olha e estima esse bem comum que é o património cultural de uma terra, mesmo que essa terra seja uma aldeia idêntica a esta simples freguesia rural, que há muito deixou de ser vila.


Crónica publicada no Jornal de Barcelos de 14 – 12 – 1995

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