sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Nos Cem anos de Garcia Lorca (1998)



ECOS


Junho. Fuentes Vaquero. Cais da tua chegada.
Havia sol ou estrelas? Que cantos de Junho soaram, na voz tremida dos
ralos ou no ócio das cigarras? Cantos bem cedo promessa, em tempo de verdes frutos, odores de tenras searas:

Verde que te quiero verde
Verde Vento, Verdes ramas

Azul de voos razantes. Fogem dos ninhos, as asas... Chão de musgo.
Pedra nua.
Verde de água. Verde mar.

II

Pelas campinas abertas, correm cavalos bravios: Soltas crinas, solto freio.
Perde-se no tropel, ao longe, a voz que o sonho alimenta.

Se ha levantado el viento que nunca duerme.

Traz consigo o desassombro. Sacode a raiz, os ramos. Espalha a raiva e o lume.

III

Agosto de sol e cal.
Vozes de morte já soam pelas ruas de Granada. Torna-se a noite mais noite.

Como canta la zumaia, ay cómo canta en el arbol!

O medo. A fuga impossível. As grades. Inquieta espera na madrugada
remota. Flechas de fogo apontadas nos canos das espingardas

Ya mi talle se ha quebrado como caña de maíz.

Rosas vermelhas, ai quantas, levas no peitilho branco!
Já cobre a erva, em silêncio, o cinzento do teu corpo. Chão de azuladas
penumbras eriçadas de silêncio, esse chão onde ficaste.

Silêncio de cal y mirto. Malvas en las herbas finas.

Ninguém mais soube de ti.

IV

Gloriosas, transmudaram-se as cinzas, entre gessos e jasmins. Perdem 
sombras, ganhem sóis.
Corre o vento, em seu destino, milhentos nós de distância. É o tempo das 
crisálidas.
Libertos, sobem no azul, ecos da temida Voz. Como asas. Como nuvens,
Ou como estrelas.

Los muertos son mas fuertes y saben devorar pedaços de cielo.

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